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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Beechcraft Twin Bonanza: o avô do King Air

No final da década de 1940, a Beechcraft produzia o monomotor Modelo 35 Bonanza e o grande bimotor executivo Model 18, da década anterior, ambos grandes sucessos no mercado. Entretanto, não oferecia, ainda, um modelo de avião intermediário entre esses dois modelos.
Para preencher essa lacuna de mercado, a Beech projetou um avião executivo bimotor, cinquenta por cento maior que o Bonanza, e muito mais pesado que esse, e que seria designado Modelo 50 Twin Bonanza. Embora a designação sugerisse uma aeronave derivada e ampliada do pequeno monomotor, o projeto do Twin Bonanza nada tinha em comum com o do Bonanza. Era uma aeronave bem maior e muito mais potente, com um projeto totalmente inovador.

O desenvolvimento do projeto foi extremamente rápido. O avião começou a ser projetado em abril de 1949 e o protótipo foi concluído já no segundo semestre do mesmo ano, voando pela primeira vez no dia 15 de novembro.

A Federal Aviation Administration - FAA, certificou o avião em 1952, e imediatamente o primeiro Modelo 50 foi colocado no mercado. Eram apenas 13 aeronaves de produção, das quais seis foram compradas pelo Exército dos Estados Unidos, para avaliação, e o restante foi vendido para operadores civis. Duas aeronaves do Exército permaneceram na fábrica da Beech, para testes, e os outros quatro foram entregues para testes operacionais, como modelo YL-23. Esse modelo inicial era equipado com motores Lycoming GO-435-C2 de 240 HP cada um (foto abaixo).

O Exército dos Estados Unidos precisava de uma aeronave de ligação, e interessou-se imediatamente pelo Beech 50. Os Estados Unidos estavam então envolvidos na Guerra da Coréia, o que aumentava a demanda por equipamentos militares, incluindo aeronaves. O primeiro Twin Bonanza foi avaliado pelo Exército em Fort Bragg, na Carolina do Norte, em 1951, e os outros quatro aviões foram entregues ao Exército, em 1952, sendo designados YL-23, aeronaves de ligação.

Durante os voos de demonstração para o Exécito, em Fort Bragg, ocorreu um acidente com um Twin Bonanza, conduzido pelo piloto de testes Claude Palmer, que se chocou contra árvores quando tentava pousar. O avião estava lotado de soldados e sacos de areia de lastro.A grande resistência estrutural do avião garantiu a sobrevivência de todos a bordo. O fato impressionou os generais do Exército,  que aprovaram imediatamente o modelo, que foi denominado L-23 Seminole (foto acima). Àquela época, o Seminole era o maior avião operado pelo Exército americano.


O Exército dos Estados Unidos, em função da Guerra da Coréia, acabou absorvendo boa parte da produção inicial dos Twin Bonanza, entre os anos de 1952 e 1953. Ao todo, o Exército operou 216 das 994 aeronaves produzidas.

O modelo B-50, lançado logo após os 13 modelos 50 originais, tinha janelas adicionais na cabine e um sistema de aquecimento de cabine melhorado. 139 B50 foram construídos, dos quais 40 foram para o Exército.

Um dos defeitos dos dois modelos iniciais do Twin Bonanza era a pouca potência desenvolvida pelos motores GO-435, de 6 cilindros, com caixa de redução e derivado dos antigos motores O-290, de 4 cilindros. O modelo seguinte, o C50, incorporou então novos motores Lycoming GO-480-F1A6, de 275 HP (foto abaixo), também um motor de 6 cilindros com redução, mas derivado dos motores O-320 de 4 cilindros.

A Força Aérea dos Estados Unidos - USAF adquiriu um modelo C50 para avaliação, mas não fez mais encomendas.

Os modelos iniciais do Twin Bonanza tinham um cockpit tão espaçoso que uma terceira pessoa podia sentar ao lado direito do copiloto, que sentava no meio da aeronave. Nos modelos posteriores, os controles foram reposicionados, eliminando essa possibilidade.

O modelo D50, dos quais  foram produzidos 347 aeronaves, pode ser considerado como o modelo definitivo do Twin Bonanza, já que todas as versões posteriores foram modelos D50 equipados com motores supercomprimidos.

Entre as melhorias introduzidas nesse modelo, estão motores mais potentes, os Lycoming GO-480-G2C6 (D50), GO-480-G2D6 (modelos D50A, D50B e D50C) e GO-480-G2F6 (D50E), todos com 295 HP. Várias outras modificações foram introduzidas, para melhorar o avião.

Os Twin Bonanza modelo E50 e F50 eram modelo D equipados com motor GSO-480B1B6, carburados, mas com supercompressor, o que podia fazer o avião atingir um teto máximo de 30 mil pés, desde que, é claro, a tripulação usasse equipamento de oxigênio, já que a aeronave não tinha cabine pressurizada.

Com supercompressores, o motor conseguia atingir 340 HP, mesmo em aeródromos mais elevados, o que conferiu um desempenho espetacular ao avião. A Beech construiu 228 aeronaves de ambos os modelos, mas a maior parte desses aviões foi utilizada por militares do Exército dos Estados Unidos e pela Força Aérea da Suiça (foto abaixo).

Os modelos G50, H50 e J50 foram os modelos finais de produção e eram, essencialmente, os mesmos modelos D equipados com motores IGSO-480-A1B6, também supercomprimidos de 340 HP mas com injeção mecânica de combustível. 80 desses modelos foram construídos até 1963, ano final de produção, mais um modelo F50 que foi convertido para G50.

A linha de produção do avião foi interrompida, em 1963, para dar lugar a um novo avião, baseado no projeto do Twin Bonanza, com as mesmas asas, flaps, painéis, células de  combustível e trens de pouso, mas com fuselagem alongada e redesenhada, denominado modelo 65 Queen Air. Essa aeronave era equipada com os mesmos motores dos modelos G50, H50 e J50, os IGSO 480, de 340 HP.

Um modelo turboélice da Beech, lançado logo após o Queen Air, o  modelo 90 King Air, também compartilhava do mesmo projeto básico do Twin Bonanza e do Queen Air, mas incorporou uma cabine pressurizada, além dos motores turboélice Pratt & Whitney Canada PT-6A, especialmente projetados e produzidos para essa aeronave.

O Queen Air permaneceu em produção por 17 anos, até 1977, e o King Air, descendente direto do Twin Bonanza, ainda permanece em produção, cinquenta anos depois da sua concepção.

Os modelos militares do Exército americano, os L-23, ficaram operacionais por cerca de 40 anos, sendo redesignados U-8 (utilitários) a partir de 1962. Eram aeronaves tão robustas que encontraram compradores civis, tão logo foram desativados, ganhando uma sobrevida considerável, e até hoje alguns estão em condições de voo. Deve-se notar que os Twin Bonanza e os Queen Air eram tão semelhantes em projeto que o Exército adotou as mesmas designações militares L-23 e U-8 para ambas as aeronaves. Entre ambos os modelos, o Exército usou 288 aeronaves do tipo, sendo 216 Twin Bonanzas e 71 Queen Airs (foto abaixo).

Além do Exército dos Estados Unidos, outras forças aéreas utilizaram o Twin Bonanza, como a forças aéreas da Suíça, Chile, Uruguai e Colômbia.
A Swearingen modificou algumas aeronaves Twin Bonanza, durante os anos 1960, para utilizar os potentes motores Lycoming IO-720 de 8 cilindros opostos e 400 HP de potência. A aeronave foi redesignada Excalibur 800 (foto acima), e é facilmente reconhecível pelas naceles de formato mais retangular que as do Twin Bonanza e  do Queen Air, que são arrendondadas. Outras modificações também foram introduzidas, como as portas de acesso modificadas e as portas do trem de pouso, que passaram a cobrir totalmente as rodas quando recolhidas.


No Brasil, os Twin Bonanza foram pouco comuns. O Táxi Aéreo RETA, de Londrina,  Paraná, operou três dessas aeronaves, o PP-APQ (D50), o PT-BTA e o PT-BXL (ambos modelos J50). Das seis aeronaves não acidentadas ainda constantes do RAB - Registro Aeronáutico Brasileiro, nenhuma estava em condição de voo até abril de 2011.

Todavia, o PT-BXL fez um voo de translado, de Campo Grande, no  Mato Grosso do Sul,  para uma oficina de aeronaves em Londrina, no início de 2011, para recolocar a aeronave em voo. Segundo informações da oficina, a aeronave deve voltar a operar em breve, na região Norte do Brasil.


Londrina, no Paraná, é, talvez, o principal ninho dos Twin Bonanza no Brasil. Além das aeronaves operadas pela antiga RETA - Redes Estaduais de Táxi Aéreo, um J50 encontra-se parado no pátio de uma oficina desde 1990, com pendências judiciais, ao relento e, atualmente, está em sofríveis condições de preservação, o PT-KSD (foto abaixo). Este avião foi um dos últimos Twin Bonanza produzidos.

Outro exemplar interressante de Twin Bonanza sobrevivente no Brasil é o PT-AZG, um Beech BE50D que pousou na rodovia BR 381 em São Gonçalo do Rio Abaixo, MG, a 85 Km de Belo Horizonte e hoje permanece exposto no Restaurante Campolar. A foto abaixo é de Lucas Vieira, que autorizou a publicação da mesma neste Blog.
 
A designação Twin Bonanza foi aplicada somente aos modelos 50 da Beech, mas uma aeronave, produzida pela Bay Aviation, o Super V, pode induzir alguém a erro. Trata-se de uma modificação do Bonanza C35, de cauda em V, para bimotor. A aeronave é tão diferente do Bonanza que foi certificada no FAA como aeronave totalmente nova, e não com Certificado Suplementar de Tipo do Bonanza. Mas é realmente um Bonanza bimotor, e tem um desempenho espetacular, apesar do seu desenho inusitado, como um teto monomotor de 11 mil pés, por exemplo. Atinge nada menos que 205 Knots de TAS.
O Bay Aviation Super V possui dois motores Lycoming O-360 carburados, de 180 HP. Apesar de ser certificado e do seu ótimo desempenho, apenas 9 aeronaves foram produzidas, a partir de 1955, e desconhece-se quem é o detentor atual do seu Certificado de Tipo do FAA, já que a Bay Aviation saiu do negócio há muitos anos.

Um mistério a respeito do Bay Super V é a sua capacidade de voar monomotor sem  usar um leme de direção.

Ficha Técnica do Beechcraft E50 Twin Bonanza:
  • Tripulação: 1 ou 2 pilotos
  • Capacidade: 5 passageiros
  • Comprimento: 31 pés 6 (9,61 m)
  • Envergadura: 45 pés 3 (13,78 m)
  • Altura: 11 ft 6 (3,51 m)
  • Área da asa: 277 ft ² (25,7 m²)
  • Peso vazio: 5.010 libras (2.270 kg)
  • Peso máximo de decolagem: 7300 libras (3311 kg)
  • Motorização: 2 × Lycoming GSO-480-B1B6, 340 hp (253 kW) cada;
  • Velocidade máxima: 229 mph (199 knots, 366 km/h);
  • Alcance : 1.000 milhas (870 nm, 1,600 km)
  • Teto de serviço: 30.000 ft (9.144 m)
  • Razão de subida: 1.614 pés / min (8.2 m / s).

13 comentários:

  1. Excelente artigo!! Uma bela aeronave que é muito rara no Brasil. Espero que o BXL voe por muito tempo ainda.

    Grande Abraço

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  2. Pra vc que gostam do tema;-) http://www.endersonrafael.blogspot.com/

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  3. Um outro curioso exemplar do Twin Bonanza encontra-se ainda hoje às margens da rodovia BR-262/381 próximo a Itabira, Minas Gerais, servindo de atração num restaurante. Prefixo PT-AZG.

    Foto: http://beta.trekearth.com/viewphotos.php?l=7&p=1209585

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  4. Olá, Lucas, realmente muito interessante essa informação e foto que vc postou. VC me permite usar essa foto para complementar meu artigo, com a citação da fonte, claro? Eu ficaria muito agradecido.

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  5. Pode usar a vontade a foto, tenho em resolução maior também.

    Achei a história dele nesse link, (http://www.velhosamigos.com.br/Foco/lucypinel.html)

    Segundo a Lucy, esse avião era do irmão do atual dono do restaurante.

    Abraço

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    1. Que legal semper quis saber a história deste twin bonasan

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  6. Sera que este avião: http://instagram.com/p/PtAJXrDfiq/ é o Twin Bonanza PT-BTA que vc se cita neste post? Ele se encontra em um ferro velho no bairro Salgado Filho em Belo Horizonte.

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    1. Caro Alanlima, sim, esse é o PT-BTA que eu citei no artigo. a foto é sua? Posso publicá-la no artigo, citando a fonte? Agradeceria muito. Lamentável ver isso, no entanto, poi vi esse avião voando muito por aqui, décadas atrás. Triste fim de uma bela aeronave.

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    2. Olá Jonas! A foto é minha sim, so que foi tirada com um celular, mas pode usa-la. Sou fotografo e amanha vou passar la pra tirar fotos melhores com minha camera e te passo também. Quase sempre passo em frente a esse ferro velho e sempre reparava o prefixo, por gostar muito de aviação fiquei curioso para saber o que havia acontecido com este avião.

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  7. sempre super atrativo o texto.. obrigado

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  8. Voei o BXL e o BTA em Manaus em 1986, quando eram da Andrade Gutierrez. O BTA fazia Cachoeira da Porteira e o BXL era baseado em Balbina, quando a represa ainda estava em construção. Excelentes aeronaveis, fáceis de voar mas barulhentas como nenhuma outra. Belo trabalho.

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  9. Voei no bta em tucuma pa 1982 projeto da andrade.

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